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“Um Crush Para o Natal”, da Netflix, crítica com spoiler
Todos nós gostamos de nos ver representado, assistir produções que remetam as nossas vivências e particularidades. E não é de hoje que a Netflix aposta em produções com representatividade LGBTQIA+, mas ainda faltava um filme de Natal para chamar de nosso! Um Crush Para o Natal é a primeira comédia romântica de Natal gay da Netflix e com certeza será aquele típico filme que vamos rever com a família em todos os natais.
O filme dirigido por Michael Mayer não fugiu muito da receita romântica clichê de Natal, mas isso não incomoda, afinal gostamos do básico desde que bem feito. E acertaram em cheio no elenco, os atores realmente fazem parte da comunidade LGBTQIA+, o que causa mais impacto do que se atores heterossexuais fossem escalados, além de um dos protagonistas ser negro. Perfeito né?
Na comédia romântica Peter (Michael Urie) e Nick (Philemon Chambers) são dois melhores amigos que moram juntos em Los Angeles, onde Peter é um produtor local descontente com seu trabalho, que tem como hobbie as plantas, e Nick é um faz-tudo durante o dia e um autor infantil de best-sellers nos períodos vagos. Peter acabou de sair, ou melhor, se livrar de um relacionamento com um homem casado. Pela primeira vez ele não seria o “solteirão” da família e evitaria a típica pergunta constrangedora “Cadê os namoradinhos?”.
Como plano de fuga ele convence seu melhor amigo a viajar com ele à pequena cidade de New Hampshire para passar o Natal com sua família fingindo que eles se apaixonaram depois de anos e estão enfim namorando. O que cairia em outros clichês não precisou ir em frente porque Carole (Kathy Najimy), mãe de Peter, já estava com o plano perfeito para ele — um encontro às cegas com o novo treinador da sua academia.
Apesar de todo constrangimento que Peter enfrenta com sua família, o que não difere muito em famílias 100% heterossexuais, a família de Peter é literalmente a família que todo LGBTQIA+ gostaria de chamar de sua. Enquanto a grande maioria da população homossexual enfrenta problemas na convivência familiar, Peter tem o que pode ser chamado de privilégio. Uma família que ama seus parentes sem julgamentos, que o apoia e faz de tudo para vê-lo feliz, mesmo que isso inclua deixar LA pra morar perto deles e desencalhar. O que é muito bonito de se ver, porque foge do padrão do gay se assumindo e das tretas familiares que estamos acostumados à assistir.
Vale ressaltar que a tia de Peter é ninguém mais, ninguém menos que a icônica Jennifer Coolidge, nossa eterna mãe do Stifler da franquia American Pie. Que inclusive o roteirista Chad Hodge escreveu a personagem já com a atriz em mente. Coolidge, aqui como tia Sandy, é uma ex atriz que não teve uma carreira promissora e começa a escrever e dirigir peças, a furada é que usa a família de elenco e não está tendo tanto sucesso.
Ao longo do filme vemos que a família de Peter se importa com paradigmas enfrentados por gays, então o filme debate sobre as pessoas acreditarem que só porque temos um amigo gay devemos o namorar, ou só porque somos gays nos damos bem em uma produção de teatro. Outro paradigma é quebrado quando Nick é um faz-tudo-gay, tirando o estereótipo de que gays não sabem fazer tarefas domésticas braçais, como consertar um cano.
Há anos falo pro Peter ficar com o Nick. Eles ficam ótimos juntos, mas não significa que tenham química amorosa. É um juízo comum que nós heterossexuais fazemos sobre gays. — Carole
Atenção! A partir daqui contém spoilers do filme “Um Crush Para o Natal”
Enquanto Peter está no encontro às cegas conhecendo James (Luke Macfarlane), que por sinal é um partidão, a sua família está aprontando de diferentes formas para o casal de amigos Peter e Nick ficarem juntos. Sua irmã Lisa (Jennifer Robertson) tem a brilhante ideia de Peter e Nick ajudarem na peça da tia Sandy, uma vez que Peter é muito criativo e ele trabalha com produção e sempre organiza sessões de fotos. E Nick é habilidoso, pode construir cenário. Mas a verdade é que o objetivo disso tudo é forçá-los a fazer mais coisas juntos.
Já o pai de Peter fala pro filho fazer fotos de Nick pra uma campanha de publicidade de Peter. E suas sobrinhas fazem questão de dormir na cama de Peter fazendo com que ele tenha que dormir com Nick. São vários os momentos que a família de Peter faz com que nós telespectadores vejamos a química que existe no casal (e eles realmente ficam lindos juntos).
Os encontros de Peter e James estão fluindo, e é até possível acreditar que o romance vá dar certo, a química dos atores é inegável. Porém Peter sempre acaba falando muito sobre o Nick, além de receber fotos fofas dele com seus sobrinhos que estão fazendo de tudo para azedar esse futuro relacionamento. James até questiona: “E se você e Nick tiverem uma ligação inegável que todos veem, menos vocês?”.
E sim, todo mundo já percebeu que sim, até Nick, mas Peter é o típico protagonista que não enxerga as coisas que estão bem na sua frente. Mas quem já teve uma amizade quase colorida sabe o quanto é difícil arriscar tudo pelo amor. No final foram tantos empurrões que ele percebe que o destino é os dois ficarem juntos em New Hampshire, que já estava nos planos de Peter ficar mais próximo de sua família e Nick super aceita a mudança.
Inclusive o que pensávamos que fosse virar uma cena clichê de aeroporto com direito à corridinha pra chegar antes do voo e declarações de amor com plateia, se torna algo mais real e maduro. Ao caminho do aeroporto Nick recebe uma mensagem para um serviço de pintura. A loja de ferragens estava para alugar e Nick negocia o aluguel por seis meses, dando de presente a Peter para ele construir sua tão sonhada loja de plantas. Ele paga com o dinheiro do seu livro e falou que seria perfeito morar perto dos sobrinhos de Peter que estavam o ajudando a escrever a continuação de Salvando Emmett e são verdadeiros fãs do livro. Admito que fiquei esperando por essa cena final, deles com o cachorro Emmett na loja já pronta, mas infelizmente não aconteceu.
Os pontos altos do filme são os momentos icônicos de referências às divas pop dos gays. Primeiro temos a princesinha do pop Britney Spears com My Only Wish (This Year), que ganhou toda uma apresentação com direito a coreografia. Peter e suas sobrinhas se jogaram nos passinhos e após Nick, Simon e Sam entraram na brincadeira. Depois tivemos a rainha do pop Madonna sendo referenciada no início da peça, o discurso da tia Sandy é a oração do pré-show Na Cama Com Madonna.
Afinal, vale a pena assistir “Um Crush Para o Natal”?
Agora vamos ao nosso veredito… O longa é extremamente agradável porque não possui homofobia, os personagens não sofrem nenhum tipo de preconceito, não tem a família sendo intolerante de alguma forma, então recebemos um filme onde todo mundo é feliz. Sendo assim, é um filme leve, gostoso e é feito para isso — fazer você se sentir bem!
Um ponto positivo que podemos ressaltar é que o longa inclui mais que apenas um casal gay, podemos ver no início que Peter e Nick possuem outros amigos gays em Los Angeles e frequentam festas gays, que é o que acontece na vida real, mas muitas vezes não vemos nas produções. Normalmente em um grupo de amigos tem apenas um gay, só pra falar que ele está ali, trazendo a representatividade, mas a verdade é que a maioria dos gays tem um grupo com outros vários gays e isso foi muito bem pautado.
Ele fala muito sobre dinâmicas familiares, sobre momentos das festividades de final de ano. E não podemos deixar de fora o quanto é bonito a família de Peter acolhendo o Nick, que é uma temática muito importante no filme. Ao que tudo indica ele não tem família, mas é abraçado pela família do Peter e tem uma sensação de pertencimento.
O filme além de falar sobre família, fala também sobre nossos sonhos, vontades, sobre aquilo que a gente quer fazer na vida. Quando Peter foi pra sua cidade natal ele percebeu o quanto estava infeliz em sua profissão e deu vazão as suas expectativas, o sonho de ter sua loja de plantas e trabalhar com o que realmente se identifica. E Nick que não estava conseguindo escrever a continuação do seu livro enfim consegue fazer o primeiro rascunho do seu novo livro.
O filme com certeza entrega muitas risadas, sátiras incríveis, a família de Peter ajuda muito nesse quesito cômico. Vemos o Natal sendo representado com todas as tradições que vão desde a decoração da casa e da árvore de Natal, a entrega de presentes e até a neve caindo enquanto o casal principal se beija. Além de fazer a gente torcer pelo final feliz. Obrigada Dona Netflix, enfim ganhamos a sua primeira comédia romântica de Natal gay e ela é incrível!
Um Crush Para o Natal ganha um 8/10 na escala do M+, e você, o que achou do filme? Conte nos comentários.
Dica do M+ | Filme de Natal correlacioado
Vale lembrar que a Sony Pictures ano passado lançou o filme Alguém Avisa? que é um filme natalino lésbico e está disponível no HBO Max. Alguém Avisa? conta a história de Abby (Kristen Stewart), uma mulher que descobre que Harper (Mackenzie Davis), sua namorada, manteve o relacionamento amoroso entre elas em segredo. Por conta disso, Abby começa a questionar a sua amada, a pessoa que ela tanto pensava que conhecia.
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De Game of Thrones a Grey's Anatomy, de Breaking Bad a Harry Potter. Bruna é maratonista profissional de filmes e séries, leitora feroz e aspirante a fotógrafa. Produtora de conteúdo e graduada em Jornalismo pela Universidade Anhembi Morumbi.