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Crítica: O Diabo De Cada Dia, novo suspense da Netflix
Em um 2020 conturbado, com lançamentos difíceis de se engolir no campo cinematográfico, O Diabo de Cada Dia chega como um alívio para a linhagem de grandes filmes da Netflix. Com a proposta ousada, o filme traz em uma pegada contista uma série de histórias que se conectam em duas cidades do interior dos EUA.
Embora muitas vezes ele se segure na estranheza, ainda consegue apresentar uma trama conexa e perturbadora o suficiente para manter o espectador colado na cadeira. Dos grandes orçamentos da plataforma, O Diabo de Cada Dia é o maior destaque do ano.
Uma jornada conturbada
Logo no início da trajetória de Arvin Russel (Tom Holland) o filme já acerta em cheio. Ele não tem medo de demorar o tempo necessário para estabelecer qualquer coisa do roteiro. Sendo assim, o protagonista só nos é apresentado depois de uma ambientação e background de 40 minutos.
Dessa forma ele desenvolve um certo senso de “hereditariedade” e coloca o personagem meticulosamente no centro da narrativa. Ousadia difícil de se ver em lançamentos parecidos. Quando não há grandes nomes da indústria (tais como Cuarón e Scorsese) tende-se a apostar na alternativa mais formular, algo que foi quebrado aqui.
A criação de uma perturbação pela frieza das cenas e a abordagem da violência é o contraponto perfeito para uma história que se baseia na religiosidade. Dessa forma, a noção de que a fé cega mais do que clarifica as ideias transpassa através das atitudes frívolas de personagens, que inserem em uma divindade a culpa e a motivação para as atrocidades que cometem. Sendo assim, ao invés do divino no cotidiano, se revela, literalmente, O Diabo de Cada Dia.
Ele esboça o pior do ser humano, mas com uma abordagem muito curiosa. De qualquer jeito, ele traz um ponto de vista que aproxima o espectador dos dramas e o choca com as conectividades do acaso.
Elementos narrativos
O Diabo de Cada Dia traz uma pegada diferente, algo como um grande conto pulp. O narrador inclusive corrobora para essa percepção, sendo usado sem receio para trazer uma personalidade extra e explicitando quase que comicamente o que se passa na cabeça das personagens.
Ele foca muito em interligar todos os acontecimentos e, embora muitas vezes isso o torne previsível, engrandece a proposta, como se uma grande “maldição” rodeasse as duas cidades. Ele consegue fazer do ambiente urbano/rural um fator incisivo na narrativa, mesmo dedicando bem pouco tempo de tela para tal. Algo que lembra o assombro e a noção de espaço primordial de Stephen King. Talvez essa tenha sido uma inspiração.
Chuva de referências
Em diversos momentos o filme remete a filmografia dos irmãos Coen. Enquanto a trajetória sozinha e desolada de pessoas que apenas estão tentando achar seu lugar no mundo lembre muito Inside Llewyn Davis – Balada de Um Homem Comum, a parte violenta cria um paralelo com Onde Os Fracos Não Tem Vez.
Embora seja uma certa covardia comparar todos os aspectos da direção de Antonio Campos com a dupla, alguns elementos se destacam bem. A criação de suspense é muito bem feita e, como já foi citado aqui, por mais que as interconexões sejam fáceis de visualizar, o que acontece depois fica em uma nébula tensa. Vide a cena em que Arvin vai “conversar” com o Pastor Preston.
Por mais que todos esses pontos acrescentem ao filme e ele demonstre até que bastante personalidade, de vez em quando ele esquece de abraçar a proposta em toda sua grandeza. Infelizmente, a dinâmica não acompanha o impacto gráfico pontual.
A estranheza não é abraçada pelo filme todo, só pelas cenas em que é requisitada, mostrando um certo descaso para a criação de uma unidade cinematográfica. A montagem, mesmo que bem precisa ao apresentar diferentes momentos no tempo, poderia ser um bom caminho para afundar na “esquisitice”.
O elenco
Um grande destaque são as atuações. Tom Holland certamente embarca em uma personagem muito diferente de tudo aquilo que já viveu e entrega um ótimo Arvin. Com nomes de peso, Campos tem êxito ao conduzir o elenco para um resultado final proveitoso.
Mesmo assim, a devida importância deve ser dada para quem merece. A cada novo filme, Robert Pattinson comprova que deve estar entre o grupo de melhores atores dessa geração. A maneira que ele abraça os trejeitos e a postura física de uma personagem sem sequer precisar de uma grande transformação de aparência é estonteante.
Por exemplo, enquanto o sotaque muitas vezes soa esquisito saindo da boca de outros atores, Pattinson parece saber como incorpora-lo na medida certa. Pode se questionar se ele merece uma indicação, mas não seria nada indigno.
Considerações finais
O saldo geral é positivo. O Diabo de Cada Dia é um thriller psicológico que sabe explorar algumas das melhores coisas do gênero. Uma demonstração de como a religiosidade vista como única solução pode ganhar um teor destrutivo. A violência encarada como um ciclo e não como uma linha reta é, infelizmente, uma representação bem real.
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Estudante de rádio, tv e internet completamente apaixonado por cinema, literatura e qualquer outra forma de arte. Gosta de contar histórias e tem sérias dificuldades de falar sobre si mesmo em terceira pessoa.