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Ignis Cup: As dificuldades do cenário feminino
A Ignis Cup está movimentando o cenário de League of Legends desde sua primeira qualificatória na Goddess Cup 1, porém a aderência das orgs maiores, que estão na franquia do CBLoL, não foi unânime. Muito pelo contrário, apenas pAIN Gaming e Netshoes Miners marcaram presença na competição feminina e não-binária, proposta pela RIOT Brasil. Indo de encontro a este fato, organizações que abrilhantam competições independentes do Tier 3 roubaram a cena do campeonato.
Algo que tem sido bastante comentado nas redes sociais de torcedores de equipes do CBLoL e fãs do jogo no geral, é a não-aderência por parte das organizações renomadas e a ausência de investimento no cenário feminino, o que realmente é digno de discussão. Afinal, a estrutura desses times é grande o bastante para abraçar as players, ainda mais no momento de final de temporada, quando não se tem uma rotina de treino ou agenda da parte do LoL nesses espaços.
A participação dessas equipes seria de suma importância para dá ainda mais visibilidade ao campeonato e proporcionar um maior incentivo às players, mas isso não ocorreu – pelo menos em nenhuma das duas qualificatórias recentes. Entretanto, organizações menores em estrutura e poder aquisitivo, abraçaram o campeonato e enxergaram, inclusive, uma oportunidade para se colocar com mais destaque no cenário competitivo.
Organizações como Rise Gaming e Time Líquido, que têm participações nas edições da ToboCopa e Empoliga, roubaram a cena. Ambas chegaram nas semifinais, em confronto direto – com md3 disputada – colocando a Time Líquido na final, contra a já tradicional pAIN Gaming.
A Ignis Cup também está sendo responsável por fomentar a criação de organizações novas, compostas por pessoas dispostas a disputar o campeonato, como é o caso da Izanagi, Freedom Fighters Project, Free Agents Girls e a maioria das equipes que participaram das qualificatórias. Esse movimento é importante, mas também mostra a problemática do que é ser mulher que sonha em se profissionalizar nos eSports no Brasil.
Para falar um pouco sobre essa questão, chamamos a AD carry, vice-campeã da Goddess Cup 1, Chapeleira, e ela opinou sobre os assuntos:
Multiverso+: O que você tem achado da ideia da Ignis cup?
Chapeleira: Gostei bastante da ideia do campeonato, pois nosso cenário estava precisando disso há anos. Dá uma espécie de valorizada, porque sem divulgação e investimento nunca se vai pra lugar algum. Porém, ainda não acredito que seja o suficiente. Conheço players que estão há anos investindo tempo e esforço, para atualmente ganhar na melhor das propostas R$1000,00. A Ignis Cup foi ótimo, mas pra mim veio tarde e ainda precisa de mais apoio.
Multiverso+: Há quanto tempo você está no cenário?
Chapeleira: No cenário, acredito que entrei mais ou menos em 2017, então fazem uns 6 anos. Mas tive muitos períodos de ausênciano meio disso.
Multiverso+: Qual a importância que você atribui a um campeonato oficial da Riot voltado apenas para mulheres e pessoas não-binárias?
Chapeleira: Essa é, literalmente, a melhor parte do campeonato. O fato dele ser um espaço seguro para todo mundo que não tem espaço no cenário misto, que a gente pode chamar de masculino né?! Pois é assim que se intitulam. Só fico muito chateada com relação a como tem gente dentro do campeonato que insiste que não devemos incluir pessoas não binárias ou de gênero fluido, porque a proposta não é a pessoa ser uma mulher, é ter um espaço seguro longe dos homens cis que ditam o cenário. Simples assim!
Multiverso+: Qual a sensação de ter feito parte da primeira final de uma campeonato nesse formato?
Chapeleira: Fiquei extremamente feliz, porque não iria jogar esse campeonato, mas estou pensando se vou ficar ou não no cenário. Ainda estou por já ter investido muito tempo, mas ainda não ter chegado no resultado esperado ou só não ter pego o momento ideal do cenário, desestimula bastante. Quero dar meu melhor e ver se consigo uma boa memoria dessa vida competitiva, eu amo jogar, acabei passando nesse time da Time Líquido e mesmo recebendo outras propostas, foi aqui que eu achei colegas de equipe que gosto.
Multiverso+: Fala um pouco sobre como é uma organização independente, com menor poder aquisitivo, ter passado por organizações maiores e chegar até a final?
Chapeleira: Sobre a Time Líquido, pessoalmente gostei bastante do empenho que a org tem. Nunca tive uma equipe tão grande de gente ativa, sabe?! Volta e meia entrava em uns times que supostamente tinha analista e psicólogo, mas nunca influenciavam realmente dentro do game. Aqui sempre contamos com, no mínimo, 2 coachs juntos nos treinos e no campeonato ficaram cerca de 5 pessoas. Isso influenciou muito no 2º lugar que tivemos.
Sabemos que no Brasil os eSports, de modo geral, ainda estão galgando seus passos na profissionalização, mas fica clara a discrepância nos investimentos em equipes masculinas frente às femininas e isso não se justifica. É incompreensível a ausência de adesão por parte das grandes, visto que as menores abriram essa porta e enxergaram o potencial gigantesco que esse cenário representa.
Os números têm sido expressivos mesmo sem a participação da maioria das torcidas que embalam o CBLoL, mostrando que esse investimento pode produzir retornos. Players têm desistido do sonho, desistido do cenário, e esse afastamento não é interessante para o desenvolvimento da comunidade.
A Ignis Cup é só o primeiro passo e esperamos que no futuro esse solo prospere.
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Jornalista formada pela UFPE (2018), trilhou seus caminhos nos esportes e cultura em diversos meios de comunicação. Mais recente entrou na área de eSports e atua como caster de League of Legends.