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The Last of Us II – Crítica
Antes de começar a ler esse texto sobre The last of Us II você precisa saber duas coisas: A primeira é que aqui você vai encontrar SPOILERS do jogo. A segunda é que nada nesse texto é verdade absoluta. São apenas opiniões e conclusões MINHAS, que estou disposta a debater sobre lá no final da página, nos comentários.
Críticas gerais sobre o jogo
Ao falar sobre esse jogo entramos em um campo minado, é necessário tomar muito cuidado com cada palavra escolhida ao criticá-lo.
O jogo recebeu muitas críticas positivas por parte da imprensa e muitas críticas negativas por parte dos jogadores. Focando na parte dos jogadores, existe um grupo grande que acredita que o jogo é só “lacração” e por isso tanto hate.
Também é importante lembrar que o cenário de jogos mudou bastante de 2013 para cá, representatividade não era tão discutida naquela época, mas atualmente é um tema recorrente. Portanto era bem óbvio que esse jogo teria mais representatividade, o que é algo maravilhoso mas que as vezes não agrada ao público mais conservador.
Narrativa
A narrativa se desenrola muito bem, apesar de muitas pessoas dizerem que parece mais uma novela do que um apocalipse o começo da história. Inicialmente temos uma adolescente comum, que apesar de estar em um apocalipse zumbi e ser provavelmente a única pessoa imune ao vírus, tem uma vida bem confortável dentro de uma comunidade.
Nesta comunidade conhecemos os dois personagens que vão dividir a campanha com a Ellie, a Dina e o Jesse, nenhum dos dois é branco, o que acabou dando mais ainda o que falar. Infectados não são seletivos na hora de se alimentar, então não, a Naughty Dog não estava forçando diversidade nos personagens, a diversidade simplesmente existe.
O principal pilar da história
O jogo realmente começa quando o Joel é morto na frente da Ellie pela Abby. Então Ellie vai para Seattle atrás da Abby, pois ela quer vingar a sua figura paterna.
Muitas pessoas acreditam que aqui temos o maior problema da narrativa do jogo: Matar o Joel. A Naughty Dog simplesmente pegou uma formula de narrativa que todos nós conhecemos, aquela em que temos um personagem que perde um ente querido e vai atrás de vingança, mas muitas pessoas não gostaram que a Ellie é quem vai atrás de vingança.
Afinal, essa fórmula narrativa normalmente tem como personagem principal um homem que perde uma mulher e então vai atrás de vingança. Se a Ellie tivesse morrido e o Joel tivesse ido atrás de vingança, será que teríamos tantas críticas negativas por parte dos jogadores?
Diferenças do primeiro para o segundo jogo
O ponto mais alto do primeiro jogo é a narrativa. Ele possui dois personagens principais, o Joel e a Ellie, e por isso gostamos tanto deles. Existe muito tempo para o desenvolvimento de suas personalidades e de seu relacionamento.
Já no segundo jogo, temos duas campanhas. O que daria menos tempo para nos apegarmos aos personagens, mas mesmo assim seria possível, se apresentasse apenas mais um personagem por campanha.
Na campanha da Ellie, conhecemos bastante sobre a Dina e um pouco sobre o Jesse. Nós começamos a nos apegar à Dina, até que ela revela estar grávida. Depois disso ainda temos algumas cenas dela com a Ellie, mas nada que nos faça nos sentir mais próximos dela, como foi no começo quando as duas estavam andando a cavalo logo que chegaram em Seatlle.
Ficamos um tempo sozinhos e depois encontramos o Jesse, ele passa pouco tempo com a gente, então por mais que tenhamos entendido que ele é um cara legal, não conseguimos realmente criar um vínculo com ele. Inclusive a morte dele é rápida e insignificante, não acredito que alguém tenha ficado realmente triste com ela, até porque o jogo não te dá esse período de luto por ele. Inclusive a morte da Yara me pegou mais que a dele.
Na campanha da Abby muitos elementos são propositalmente inseridos só para gerar empatia pela personagem. É realmente bem forçado, já que o jogo tem pouco tempo para te fazer gostar dela, mas funciona muito bem. Eles criaram muitas semelhanças entre as duas personagens jogáveis para você criar empatia pela segunda campanha mais rápido, até o nome delas chega a ter uma sonoridade parecida.
Em relação à personagens secundários, se já foi difícil criar um vinculo com os 2 que dividiram a campanha com a Ellie, agora temos a Abby dividindo a campanha com bastante gente. Apesar que, com toda a apelação que eles usam, a gente acaba se envolvendo bastante com o Owen e o Lev.
Lembrando que o Lev é um garoto transexual, e que a Naughty Dog abordou isso de forma tão leve e natural que muitas pessoa nem perceberam isso. Novamente mostrando que a diversidade existe e que não é algo forçado.
Gameplay
Em relação à jogabilidade, The Last of Us II não apresenta muitas mudanças, o jogo continua tendo como principal estratégia o modo furtivo. Porém é possível notar uma grande melhoria na jogabilidade, desde gráficos até a mira de personagem.
Diferente do primeiro, o jogo te deixa tenso quase que o tempo todo. E isso foi um problema para mim, que senti falta de momentos mais calmos. Até temos esses momentos enquanto estamos jogando as memórias da Ellie com o Joel, mas não todas as cenas em Seattle são realmente tensas. Acredito que era o que eles estavam buscando, já que estamos passando por um território em que está havendo uma guerra entre povos.
Duas personagens jogáveis
Jogamos com duas personagens ao longo do jogo, e apesar de estarmos jogando o mesmo jogo com praticamente as mesmas coisas, não parece que simplesmente trocamos a roupa da personagem. As personagens possuem armas diferentes e estilos de luta diferentes.
Novos inimigos
Não existem muitos inimigos novos já que estamos no mesmo universo, apenas avançamos 5 anos. Basicamente existe uma nova variação de infectado que não conhecíamos, os trôpegos, que estão em um estágio entre os estaladores e os baiacus. Eles soltam um gás ácido e mesmo depois de mortos ainda são perigosos pois explodem soltando mais gás ácido.
Em relação aos humanos, os Lobos possuem a ajuda de cães, que são inimigos que te farejam e te atacam.
E mesmo a variedade de inimigos não sendo tão grande, melhoraram muito o combate e as possibilidades de você se manter no modo furtivo. Portanto o combate continua sendo único em cada cenário.
Acessibilidade
Não é nenhum segredo que a acessibilidade de The Last of Us II é incrível. A Naughty Dog abraça a diversidade dentro e fora do jogo. São mais de 60 opções de configurações, sendo assim o jogo mais acessível dela.
Além de ser possível reconfigurar todos os botões do controle, também é possível jogar apenas com o áudio. O líder de áudio do estúdio, Robert Krekel, fez uma thread no twitter falando um pouco sobre o trabalho deles. Ele cita o designer de som Justin Mullens, que foi quem se dedicou a fazer o conjunto de sons que são usados como ferramentas para possibilitar que jogadores cegos e com baixa visão consigam jogar.
Para ver a thread inteira de Robert Krekel é só clicar aqui.
Detalhes
O jogo possui muitos detalhes que tornam ele incrível e que nos colocam dentro daquele universo. Vou citar três que me chamaram muito a atenção, mas existem vários outros.
As mãos da Ellie tremem e ela está sempre girando a mão para estalar o pulso. Isso pode acontecer por emoções que ela sente bastante ao longo do segundo jogo, como raiva e ansiedade.
Da mesma forma que a Ellie tem uma mania específica, a Abby também possui. A Abby mexe bastante em seu ombro esquerdo, como se estivesse com dor e depois da uma alongada nos ombros. E por ela ter medo de altura, sempre que você se aproxima da borda de um lugar alto e olha para baixo, o jogo ativa um efeito que simula vertigem, assim ele tenta te passar o medo da personagem de estar ali.
E por último, a comunicação entre os inimigos. Eles estão sempre gritando entre si para informar a sua posição para os seus amigos e também reagem a morte de seus aliados, esses comportamentos tornam eles mais humanos. E quando só sobra um inimigo e ele está ferido, ele vai implorar pela sua vida. Caso você finalize ele com a faca e a Dina estiver perto, ela vai reagir um pouco horrorizada com a sua atitude.
Conclusão
Esse foi um jogo necessário. Ele aborda assuntos muito atuais e trata eles com naturalidade. E o mais importante é que ele faz com que nos coloquemos no lugar dos outros e ao fazermos isso entendemos que toda história tem dois lados. E qual a melhor forma de passar isso se não te fazer literalmente viver na pele da personagem que você passa metade do jogo odiando? Foi uma ideia muito arriscada mudar a gameplay para a Abby no momento em que você mais odeia ela, mas acredito que funcionou e cumpriu seu objetivo.
Após escrever tudo isso, concluo dizendo que como game designer, este é um jogo nota 10, porque apesar dos problemas citados, ele funciona muito bem e todos os pedaços se encaixam.
E como jogar um jogo faz parte de uma experiência, entendo que particularmente nem todos vão achar nota 10. Afinal, existem muitos fatores externos que podem influenciar na sua experiência, como o seu meio social e suas experiências vividas.
E você, o que achou de The Last Of Us II?
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