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Ignis Cup: Cenário feminino e negritude
A Ignis Cup é um campeonato de suma importância para a visibilidade feminina e não-binária no cenário do nosso LoLzinho, mas uma discussão que tem passado despercebida é a participação negra nesse evento. Quando abrimos uma porta, precisamos pensar em quem pode passar por ela, quem consegue esse espaço, e pensar na negritude feminina e não-binária é necessário nesse momento.
Quando falamos de qualquer minoria social, é necessário refletir quais recortes passam por ela, quais outras questões envolvem sua experiência como pessoa e como profissional. Assim, trazemos uma conversa com a pró-player e streamer Meniina Má, que jogou a Goddess Cup 1 pela Izanagi, para elucidar melhor a discussão aqui proposta.
Nossa entrevistada é uma das poucas meninas/menines negras conhecidas no cenário e isso já soa um tanto quanto problemático, já que temos no nosso país uma porcentagem de 56% de pessoas autodeclaradas negras – dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2018.
Mesmo em competições mais difundidas, como o CBLoL, ainda fica clara a discrepância da participação negra na comunidade profissional. Sabemos que os acessos da população negra, no Brasil, ainda é limitado em diversos seguimentos – reflexos de outrora – mas precisamos fomentar e inserir esses corpos, esses profissionais, nos diversos mercados que constituem a sociedade, e os eSports são um deles.
Batemos um papo com a Meniina Má sobre o assunto, sendo ela a única representação negra que tivemos ciência na Goddess Cup 1:
– Multiverso+: Meniina Má, como você entende a importância da Ignis Cup?
– Meniina Má: A ignis cup é a representação de um sonho sendo realizado para muitas meninas, inclusive para mim. Uma oportunidade única para podermos mostrar que também sabemos jogar e sempre estivemos aqui, esperando essa chance, uma porta de abertura para muitas organizações prestarem atenção ao cenário feminino e investirem cada vez mais nesse cenário, para que outros campeonatos possam vir e mais meninas sintam-se a vontade para participar, sem medo de serem rejeitadas ou desvalorizadas.
– Multiverso+: Há quanto tempo você está no cenário de League of Legends?
– Meniina Má: Eu conheço o Lolzinho desde 2015, quando eu jogava só para brincar. Comecei no cenário competitivo em Março desse ano, inicialmente jogando como suporte, e há alguns meses atrás mudei a rota para AD Carry. Porém, a Ignis Cup foi a primeira oportunidade que tive de achar um time incrível e participar de um campeonato oficial.
– Multiverso+: Você entende sua importância na representação feminina e negra no cenário?
– Meniina Má: Particularmente, eu estava tão empolgada em poder finalmente participar do campeonato que não me liguei ao fato do quão importante isso era, na questão da representação feminina e negra. Existem pessoas que acreditam que não há espaço para elas no cenário competitivo, que não vão ser valorizadas, que sempre estarão atrás de outras pessoas, e eu espero poder mostrar exatamente o contrário, eu espero poder servir de inspiração para muitas pessoas assim como eu, para que elas nunca desistam de ser exatamente quem são e lutar pelo que querem!
– Multiverso+: Você conhece outras profissionais de League of Legends, seja player, seja caster, que sejam negras? Como você acha que poderíamos ampliar a participação da comunidade negra nesses esportes?
– Meniina Má: Eu conheço, sim, porém infelizmente são poucas. Acredito que tudo se começa com inserção e oportunidades, a Ignis cup nos dá abertura para que ocorra essa inclusão, porém será preciso mais que um campeonato para que as pessoas se sintam realmente incluídas, em todas as questões, seja participando como player, coach, organizadora, caster e entre outros. A inserção deve ocorrer de forma completa em todos os pontos.
– Multiverso+: Você sabe quantas meninas negras tivemos na Goddess cup? Acha esse número representativo?
– Meniina Má: Eu realmente não sei quantas meninas negras participaram da Goddess cup, mas posso falar por mim que provavelmente esse número é baixo, já que eu não me recordo de nenhuma.
A Ignis Cup é indiscutivelmente uma grande passo para as minorias que a copa se propõe a abraçar, mas é necessário ampliar a visão para também abraçar o recorte de negritude, neste caso, que mais meninas e pessoas não-binárias negras também ocupem esse espaço. Cabe, portanto, aos organizadores, organizações, influencers e nós, da mídia, desenvolver essa inserção com muita consciência e empenho.
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Jornalista formada pela UFPE (2018), trilhou seus caminhos nos esportes e cultura em diversos meios de comunicação. Mais recente entrou na área de eSports e atua como caster de League of Legends.